domingo, 23 de outubro de 2022

tudo que salta da boca
da minha
é violência
, mas como poderia ser diferente
se as condições de subjetivação
numa sociedade engolida pelo fascismo
- generalizado -
é a violência
contra si &
contra os outros
tudo que salta para a boca
é culpa
"Eu deveria"
(a máquina
superegóica
que esmaga)
Não é que não posso te amar
É que não sei te amar
(ah! como se fosse questão de Saber)
Não do mesmo jeito
Não no mesmo tempo
que você me ama

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

O lírio branco na casa de vovó

Gosto dos mistérios da Natureza
de seus movimentos silenciosos
de seus segredos impenetráveis
Amo o lirismo delirante da poeta
& seus lírios brancos cujas pétalas
reabrem a vida de forma discreta
Foi a sementinha plantada exata no vaso.
Pelo pássaro ou pelo anjo de asa branca
branca como as pétalas do lírio branco
branco como as asas do anjo brancas
como as asas do pássaro do mistério.


    Foto: Maria José Almeida Nogueira, Paraisópolis (MG)

domingo, 29 de agosto de 2021

vão concretar as montanhas
para os automóveis subirem
& admirarem o por do sol

artificial

vão aterrar & asfaltar os rios
para seus carros acelerarem
mais rápido o fim do mundo

sobrenatural

vão dizer que amam a natureza
& a transformarão em fotografia
em recurso, em produto vendido

na rede social

vão erguer milhões de prédios
que adentrarão a exosfera & já
sem Primavera restará sem valor

o capital

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

#MarcoTemporalNão

O que aconteceria se nós tivéssemos a coragem dos povos indígenas e não só medo dos covardes
do 7 de setembro que morrem de medo de nós?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Pesadelo Covid-19

O silêncio na cidade esta noite é abismal
Só há o som das sirenes das ambulâncias,
além do normal, em disparada para salvar
milhões de sonhos com terrível falta de ar
Estamos presos num labirinto sem saída
Em algum hospital, lotado, de desespero
alguém grita, mas é tarde, muito tarde &
é como se, do dia para a noite, a verdade
fora, finalmente, compreendida: genocídio
perpetrado como se fosse o "novo normal"
Entrecortado, se não por sirenes, por gritos
esparsos de falanges negacionistas suicidas
O silêncio na cidade esta noite é sepulcral

sábado, 16 de janeiro de 2021

brasil [sem ar] janeiro 2021

são flores murchas & poemas rasgados a política da morte & o mito dos nazistas o cristo asfixiado na câmara de gás

& o negacionismo
na rede do capataz

tempos sombrios,
zumbis armados

humanos asfixiados
em caixões lacrados

pistola sagrada
bíblia automática

pilhas de cadáveres
um brinde à saúde [da economia]

à sua economia
& à asfixia
à asfixia &
à sua economia

cheiro de velas
& de queimadas

pulmões de milhares
de vidas ameaçadas

aceleração da inteligência &
da brutalidade algorítmica

uma foto na rede social
de mais um culto viral

uma foto na rede social
de nossa alegria digital

se a vida é fake
a morte é real?

pilhas de cadáveres
um brinde à saúde [do capital]

o seu capital
& à asfixia
à asfixia &
à banalidade
do mal

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

pandemônio

"armas" repetem & dizem preferir fuzis a feijão

diferimos. "amor" simplesmente "trevas" insistem & gritam preferir o vírus a vida

diferimos. "canto" simplesmente.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

cloroquina & mito antivacina este é o brasil

"sinto que o mês presente me assassina"

que assassina

quinta-feira, 19 de novembro de 2020


Para ver do alto da Montanha Não basta subir até o seu pico
É preciso, e raro, saber manter
a Montanha dentro do espírito
& o espírito da Montanha livre

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Canção do fora 1

O fora importa
tanto quanto dentro
Às vezes até mais
se dentro for só rapaz
estar por estar
se dentro for só
vazio

fora e por dentro
por dentro fora 

O fora importa
tanto quanto dentro
Às vezes até mais
se dentro for só
a censura do fora
e não a cesura no agora
se você pensar bem rapaz

fora e por dentro
por dentro fora 

Agora, o fora é dentro
tanto quanto o dentro é fora
É hora: o dentro dentro do fora
O fora no centro do agora