terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Mais de mil anos se passaram
desde a última poesia
desde que a última rosa desabrochou
uma ogiva nuclear
Agora que pouco resta tudo resta
Há um grito desesperado
de rato no esgoto
Uma tempestade
esfumando a montanha
Há pó
Há cachaça
Há morte
caindo
de um céu
que tinge-se
& finge-se
de brigadeiro
admirado por
Jovens com
olhares
opacos
Há sempre
um traidor
no grupo &
capitalistas
nos automóveis
Há uma tia
possessa
por ela mesma
no sofá da sala
& um primo
suicida
Não a reconheceria
mais & se o fizesse
não saberia o que dizer
como não soube
da primeira vez
que nos desconhecemos
O que foi aquele
beijo apressado?
Um ardor que
 não arde o suficiente?
Tens medo
de se apaixonar
novamente &
transformas esse temor
em um estranho prazer
dever-me de joelhos
em um chão sujo qualquer
a implorar-te
teu amor impossível.
Ainda assim abraças aqueles
estranhos. Fazes com eles
o que seu medo de amar
faz comigo?
- "Você disse que iria embora".
- "Fiquei para descobrir quem
não és".
Há um pesadelo na madrugada quente
Um desejo irrefreável
Um aperto na garganta
Um choro convulso
Um poeta cristão
culpando-me
de seus pecados
imaginários.
Será que o rato foi embora
depois da tempestade de verão?
Há uma decadência cultural
enquanto o capital
corrói o planeta
Há um hippie
consumido por este
mesmo capital
tentando-me vender algo
Não há saída
para o rato no esgoto
Não há saída para o homem
fora dele.


Nenhum comentário:

Postar um comentário