sexta-feira, 13 de julho de 2012

prefiguração/não sei o que aconteceu comigo

1

Estávamos dentro do mar. A água era esverdeada & batia suave na altura do peito. Havia pedras gigantes e o mar estava calmo embora as ondas batessem forte na praia. Avisaram: - deus morreu novamente.

2

Corri atrás de dois homens sem face de São José dos Campos (SP) a Paraisópolis (MG) sem me cansar. Depois, já em São Paulo - pouco antes de escurecer - caminhei apressado em uma trilha no meio do mato e cheguei a uma clareira onde havia uma manilha enterrada verticalmente no solo com uma tampa de cimento fechando-a. Senti que se a noite chegasse e estivesse no matagal poderia sentir medo e me perder. Lá era desenvolvido um projeto de incentivo à leitura onde as pessoas podiam depositar & pegar livros. "Biblioteca selvagem", pensei. Mas dentro da manilha não havia nenhum livro. Então, escutei alguém dizer: - "trocamos poesia por estrelas".

3

Um cientista social explicou que o mameluco de dread negou o universo, família, trabalho, religião, tudo, exceto a vida e virou uma espécie de mendigo entre os estudantes que diziam-lhe: - "a vida é assim mesmo". Ele ficou decepcionado com os estudantes pois estes falavam não da vida deles, mas sim da vida dele. Sofreu, apanhou, foi humilhado até ser aceito pelo grupo. Descobri que tocava violão em saraus na clareira e que - talvez - fora  quem me propôs trocar poesia por estrelas.

4

Ela disse tchau & entrou em um ônibus. Fiquei na cozinha e tomei água da torneira. O telefone tocou. Queriam informação sobre a fábrica. Respondi que enviaria um e-mail com os dados e me livrei da situação. Encontrei os dois homens sem face. Fomos de fusca - a uma velocidade tal que pressentia a morte estava em cada curva - para uma fazenda. Um cachorro me atacou. Assim que consegui me desvencilhar da fúria animal, encontrei com meu duplo feminino. Ela era um pouco mais baixa do que eu & estava nua. As formas do seu corpo eram idênticas às minhas, exceto pelo fato de possuir peitos.  Caminhamos & vi suas nádegas.

5

Flashs em Ouro Preto. Eu & o cientista social tentamos - em vão - lembrar o nome de uma banda gaúcha de rock & colocamos a culpa no baseado que fumávamos naquele momento. O cientista escalou um prédio em cuja lateral haviam trepadeiras mostruosas que encombriam o nome da placa da rua e dificultavam a localização. Ao chegar na na sacada do terceiro andar fez um sinal para eu subir também.

6

Eu a procurava sem saber que estava perdido. Assim que a avistei - sozinha - talvez voltando para casa -  encontrei-me pela primeira vez perdido - continuei - não sem deixar de olhar para trás - e me reencontrei ao seu lado sem contudo me reconhecer.

7

Violência nas ruas. Violência não objetiva. Lentas mortes se sucediam. Recebi as informações por intermédio de meu pai. Clima de tensão. Noite de carnaval ou depois de algum jogo do Brasil na Copa do Mundo. Aquilo parecia um sonho. Um grupo de verde amarelo entrou cantando no bar. Percebi um tom de ameaça na voz de um deles. Ele falou e gesticulou para a pessoa que estava do meu lado. Ele usava óculos e senti que me reconheceu . Também o reconheci, mas não lembrei seu nome. O músico falou que aconteceram noites musicais temáticas onde os dj`s escolheram música a partir de uma palavra. "Na noite da bola, toquei o funk do tatu bolinha", disse. Estamos em São Bento do Sapucaí. A noção do tempo foi para o espaço. Zé Boi & eu marcamos voltar de moto para Paraisópolis.

8

Estava em uma pedreira. Havia cavernas. A palma da mão da mão ralada. Escorreguei? "É provável", pensei. Apesar de sangrar não senti dor. O ferimento era uma imagem. Encontrei o mameluco de dread & falei possuir bases jamaicanas para soltar. Ela apareceu em meio às pedras.

9

Caminhei longamente por uma estrada abóboras de terra tocando um chocalho. Encontrei no barranco um tridente enferrujado.

10

Quando percebemos transávamos no meio da rua & as janelas das casas eram baixas & uma mulher nos viu & chamou outras pessoas da casa & voltamos correndo para dentro do segredo de onde saímos sem perceber.

11

Entrei numa rua escura no centro de São Paulo. Vi uma fila & me aproximei. Garotas com guarda-chuva pularam uma poça para entrar no clube "O Bestiário".  Vi o cientista social flutuar sobre a pista de dança com luzes estroboscópicas nos olhos.

12

Toquei teclado & o músico bateria em uma garagem que descubri ser da casa do cineasta que disse ter dúvidas existenciais porque seu pai foi um ator famoso. Chego em casa & já havia uma chave na porta.

13

Participei de uma orgia. O cenário lembrava Saló ou 120 dias de Sodoma. Vi-a sentada no pau do velho. A vagina da jovem cresceu, engoliu o velho e depois todas as pessoas. Entramos em uma nova dimensão sexual.

14

Antes da festa de casamento alguém me pediu para esquentar a água do áquário que tinha forma de copo de cristal. Disse que pretendia tomar um banho. Pensei nos peixes. O jornal chegou com diversos cadernos culturais. Liguei para o cientista social para perguntar se a arte havia tornado a regra ou se aquilo era sinal de reconhecimento da exceção ? Ele disse para jogar fora os cadernos culturais e pegar a estrada. Peguei uma e encontrei o músico. Vimos um macaco em meio às árvores de folhagens grossas e verdolengas que, a princípio, nos assustou. Depois, ele e um sapo cor de abóbora apromixaram-se. O músico fez com a boca o som de um piano e eu cantei bolero.

15

Liguei & pedi pizza
: mezzo sonho bom
&  mezzo pesadelo

16

A cachoeira havia tornado-se um brejo escuro. as onças estavam na caverna. sedentas. nós caminhávamos há dias, exaustos, por trilhas poeirentas entremeadas por um mato verde ralo amarelado. As árvores eram apenas galhos retorcidos, secos, cobertos por uma crosta acinzentada. o gato rajado que estava em seus braços correu para a caverna. "será devorado pelas onças" que subsistem. foi um sonho estranho, talvez um sonho com o que será depois do fim do mundo, do mundo como o havíamos conhecido, mas a realidade que agora me invade tende ao pesadelo da destruição total, quer ser pior do que aquele sonho estranho, quer se materializar. um galo canta triste no quintal. por aqui engenheiros_homens_zumbi querem construir uma usina hidrelétrica na cachoeira. lá já construíram belo monte. a engenhosidade destes homens é transformar sonho em pesadelo, vida em morte. Precisamos detê-los antes que seja tarde & nem sonhar possamos mais.

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