sábado, 4 de maio de 2013

tarde da noite ou o sampler do amor

Capítulo O

Há uma língua estranha na minha própria língua. Diversas línguas.


Capítulo 1

caos lugar entre planta disco segredo. criatura com febre dentro,
tarde da tarde não chorar enquanto a pele queimar
arder a tarde toda mordido a perder o controle do tempo
dançarinos do próximo caos.
ao largo da ordem manca do império
tanto tempo dentro do tempo: o lugar desapareceu
um mapa na pele queimado
doer até não poder mais quanto menos sentido outro sentido emergirá é tanto caos dentro & fora que esqueci a morte, a polícia, o controle, as leis, a ordem, os prazos, o fogo aceso
o caos é um jardim de tormentos & delícias &

& passados & presentes & amanhãs misturados numa massa mole que irrompe com a forma que der a ela agora antes de retomar novamente seu fluxo disforme na eternidade.

Pronto.

desvencilhou-se enfim da imagem. ainda faz perguntas sobre liberdade preso à tela. passei mal veloz & deixei o mal passar.

os órgãos balançam na carcaça. tripas na perna. coração no fígado. fígado atrás do sofá. alguém cantando dentro do próprio peito amplifica a dor.

o caos vomitará poesias, estrelas, discos, filmes, esperma, fotografias, máquinas, ódio, conexões, drogas, desejos, líquidos, lugares e não-lugares, filosofias, revoluções, linhas, cigarros, quadros, territórios, romances, tintas, paixões, teatro.

esculpirei & escreverei & pixarei & filmarei & dançarei & droparei & transarei & surfarei & musicarei o caos &; serei outro a concentrar os pedaços do mundo em um novo caos no cerne do espírito até a morte quando me reunirei definitivamente ao caos do universo em movimento

sentindo o próprio cheiro no comando da espaçonave da linguagem que viaja da terra ao cosmos e do cosmos a terra

arrastando consigo: berg & webern ("symphonie op. 21") & schoenberg: (Verklärte Nacht, Op.4), messiaen ("chronochromie") & scelsi, & stockhausen & varèse ("déserts") & mossolov (""iron foundry") & cage & berio & reich.

bem-vindo à fábrica do tempo. não precisa entrar porque está dentro & não precisa sair porque já está fora. sem fim nem começo meios.

os círculos concêntricos resultantes da pedra atirada no rio ao atingirem a margem continuam a ressoar na terra & sobre as multidões.

'cortei a cabeça da cobra cinza que estava escondida entre as folhas da babosa. na noite deste sonho falaste-me sobre ogum. sempre sonho cobras. certa vez havia um ninho de cascavéis; fui traído na manhã seguinte.

os cavalos pastam enquanto o estado armado ordena com técnica militar que os adolescentes abram as pernas e mantenham a mão na cabeça.

"é pavorosa, terrível & nojenta a forma com que encaram meu corpo na rua", ela me conta enquanto o bueiro exala um cheiro pútrido tal qual o olhar do homem que despertou-lhe a necessidade de dizer isso.

Concordo com outra pessoa então que sim vai ser a última vez mesmo sendo a primeira vez que ainda não foi & você me beija com lábios enrijecidos.

com a lua-cheia fiquei quente por dentro & gritei hilda & senti cada palavra dentro & fora de mim ao mesmo temp enquanto ouvia-me através dela & agora vc sabe, tarde da noite, que eles precisam de mais vinho no espírito. alimento o fogo.

Capítulo 2

durações

Capítulo 3

afeito a criar labirintos em campo aberto. no final tudo o que sabia fazer era pensar no que sabia fazer caso alguém perguntasse. inventar uma história de vida lógica sem poesia elas precisam ouvir isso então diz. o prazer é mais perigoso do que a liberdade. só pensava nisso enquanto se

Capítulo 4


é um desequilíbrio inconstante
de repente a morte da mamãe
o nariz que sangra na camiseta

branca

é um
desequilíbrio inconstante
bêbado entra no rio de óculos
procurando um segundo para

morrer

Capítulo 5 ou a Revolução Brasileira

recebi uma intimação das ruas: "radicalismo burguês ou revolução: escolha".



Capítulo 6


Aprendi a destacar seu corpo da multidão de corpos singulares. seus olhos delineados e lábios tremendo enquanto planejamos o que faremos com os corpos, com os nossos corpos enquanto o desejo vai se reconfigurando de acordo com as possibilidades de mais um amor impossível que se irrealiza em cada uma destas tardes de atração.

  Capítulo 7

onde está a resposta para minha loucura? onde está minha libertação sexual? Em alguma página de livro?  

Capítulo 8

céu sem estrela a chuva estrala

Capítulo 9

saber cyber?

Capítulo 10

"Marido é marido, namorado é namorado", escutei-a dizer (a seu namorado?) (a seu marido?) ao som de Metastasis de Iannis Xenakis.

Capítulo 11

uma novo amor implica sempre na destruição de outro.

você não pode segurar a granado depois de ter arrancado o pino ou pode.

Foge enquanto é tempo. Quando for tarde demais toda fuga será em direção a um tempo inexistente para dentro do amor, para dentro da morte. Amar é desejar a sua própria morte depois do desejo saciado.


Capítulo 12

Nunca consegui encontrar o outro lado daquele que eu era à procura. Neste instante me perdi definitivamente daquele que eu poderia dizer que era & a quem só posso me referir por memória. O lado que faltava é o outro que sou & não sou o que quis ser,  o que me torno sou, é este quem fala sobre aquele que ficou para trás. tornei-me outro a partir daquele que não sou mais nem um pouco & nem quero saber. reencontrar seria muito poético sem ser um poema.

Capítulo 13

só.
possível com a cara cheia de vinho.
são.
tantas músicas para enlouquecer
um pouco pelo menos ao anoitecer.

Capítulo 14

- Vai embora não quero falar com você

Capítulo 15

- Alô.
- Oi. É X.
- Oi. Estou no ônibus agora, indo pro Juvevê. Me liga daqui 10 minutos.
- Oi.
- Oi. Você não quer mais?
- Foi você quem pediu para eu ir embora.
- Hum ...
- Vou deixar para você decidir. Eu já decidi há dois anos.
-  Quero.
- Apenas não vou procurar mais. Vou esperar. Andei do centro até aí sob este sol absurdo para provar meu amor & me mandou embora ...
- Fiquei com medo ...
- Entendo.
- Estou agora ...
- Delícia. Gostaria de agora & depois.
- Você não pode se aproximar que já fica ...
- Nós dois não podemos. Um do outro. Agora mesmo longe podemos sentir. Você sente agora?
- Sinto.

Capítulo 16
Eu cineasta que nunca havia empunhado uma câmera, cineasta sem filme, artista sem obra de arte, músico sem banda, amigo sem amigos, escritor sem livros, amante sem seu amor, um pensamento puro.

Capítulo 17

A primavera chegou com muita chuva. As flores dos ipês amarelos escurecidas sobre as pedras portuguesas.  Le Sacre du printemps retumbante nos tímpanos.

Capítulo 18

a tempestade atravessou nosso lar ontem a tarde. há galhos, alumínio retorcido, casas destelhadas e um ator de teatro morto nos meus olhos. & todos rimos, rangemos os dentes, comentamos discretos, desgraçados, da desgraça alheia & todos fazem o mesmo de nós.

Capítulo 19
entre filosofia, comunicação, cinema, literatura, música, teatro, artes plásticas
entre ratos, cupins, aranhas, lesmas, minhocas, cobras, tatus, sabiás & urubus

se a política é biopolítica 
considere a possibilidade
de estarmos com câncer

Capítulo 20

A tragédia - a minha tragédia - talvez seja recolher dia e noite os cacos das catástrofes  do globo acreditando ser possível revertê-las obtendo todavia sempre uma catástrofe maior, sim, uma verdadeira tragédia.

Capítulo 21

uma humanidade que não escolhi & que sou mesmo a negando quando a política se torna a própria catástrofe é impossível evitá-la; falava sobre isso com uma amiga, ontem. a questão de pensar a política a luz deste destino catastrófico talvez resistir quase suicida. Um desejo de morrer antes. - benjaminiando .... não há documento de cultura que não tenha sido um documento de barbárie. a morte do Benjamin foi uma catástrofe. O documento vivo de uma catástrofe. Desde então só posso escrever poemas de catástrofes no lugar de estrofes
gostaria de ser mais otimista & é justamente esse desejo que me leva de encontro à grande catástrofe gostaria de negar tudo o que escrevi & não posso ao mesmo tempo

Capítulo 22

A constituição de um campo de imanência que não seja apenas campo de imanência de morte e mais morte é o desafio cosmopolítico para uma certa humanidade que acredita rezando para um deus morto na transcendência de seus crimes; finge desconhecer que a efemeridade de sua condição humana é seu próprio e único destino enquanto destrói, queima, consome e assassina tudo aquilo que nega sua paixão pela morte ou confirma sua impotência.

Capítulo 23

Para os desejosos de confirmação da derrota pública anteriormente espiada & preparada como veneno a ser aplicado sorrateiramente junto com um sorriso hipotético anuncio minha total inaptidão para vossa ciência que se faz com um desejo irascível de morte

Capítulo 24

Ainda debaixo do chuveiro pensei se seria possível aprender algo que não fosse um, um sistema, uma ordem, uma estrutura, um conjunto rígido de códigos, uma fórmula, um programa.

É possível desenvolver algo mais que não seja um projeto adequado ao projeto de outra pessoa?

Capítulo 25

Um dia depois defronte ao computador pensei que não poderia deixar de pensar.
O que sobra do caos: cao(S)obra. O caos se move como uma cobra. O S da língua da cobra.

Capítulo 26

as lembranças se desvanecem. a próxima frase precisa ser inventada. a vida como a língua é uma invenção contínua. para que servem as lembranças senão para impingir dor ou para alguém se lembrar superior quando lhe é perguntado "quem é"?

(des-) Capítulo 1

a força quer transformar o caos em obra & a obra em caos continuará indefinida & a se desdobrar 

Capítulo 0

não há mais o eu antes do verbo que é a própria coisa a se mover através & nem passado & nem presente * nem futuro. combinações. o presente atualiza o passado & rasga o futuro & dobra-se vertiginoso.

- mergulhar.

- aconteceu.

- percebe? não há mais volta. o encontro foi feito & a força resultante é potente demais para que o movimento não seja efetuado.

- a experiência precisa ser feita.

Capítulo -1 (Hipermnésia)

 
Já fui picado por todas as cobras do paraíso, já fui traído por todos os meus amigos pelo menos uma vez, os meus inimigos já me deram vinagre para beber quando tive sede, já fui xingado de todos os nomes feios conhecidos pelas bocas podres que os professaram, meu nome já foi proferido em rodas de álcool & fumaça, já desejaram minha morte, já tentaram me assassinar pelas costas. nada, nada, absolutamente nada conseguiu fazer-me o mal desejado pelos monstros que habitam esses cérebros, corações, estômagos, dedos & línguas. Quanto mais mal nos fazem, quanto mais mal nos desejam, maior será o mal que terão que lidar quando estiverem sozinhos à noite com seu próprio mal. Pisarão sobre as cabeças das cobras? Pisarão sobre as próprias cabeças?

Sou tudo que não sou eu & esse tudo não conforma uma totalidade, é um rio que transborda.

Descapítulo

o ser é uma invenção do ser homem donde deriva antropocentrismos. o ser. - qual ser? - o ser homem? o ser humano? Este bicho como outro bicho que come outro bicho como outro bicho? Matei Heidegger e Sartre com um tiro só, matei o ser aí, matei o meu ser. o ser por si não basta, nunca bastou, nunca bastará. talvez para os liberais. esses de uma esquerda apaixonada pelo estado, pelo poder, pelo espelho. isto é e não é um ensaio, uma farsa, um grande jogo porque não dá para acreditar mais nesse papo de ideologia. não há ideologia! há discursos ideológicos. este povo e seu grupo hermeticamente lacrado só quer o poder, dizer que os fins justificam os meios, dizer a palavra final.

talvez sim a autonomia de suas palavras em relação a mim; suas palavras dão vida a um ser que não necessariamente corresponde ao ser que elas querem corresponder. nego todas as suas palavras para que elas sejam apenas suas palavras, desta forma não me torno o ser que você talvez um dia acreditou que eu fosse, porque afinal não somos mais, talvez menos, radicalmente diferentes, criadores do que não é, do que não pode ser! isso é (é?) apenas um fluxo de palavras que quanto menor sentido fizer com as coisas do mundo mais próximas da criação estará. & nego todo o ser fixo e que através de palavras pretende me fazer cair na armadilha em que caiu: a armadilha do ser humano.

Capítulo

O desejo passeia pelas ruas frenéticas frenético. dá voltas no quarteirão excitado. cambaleia. a cabeça lateja. o jornal colado na banca é uma composição amorfa de letras. o sol brilha nos cabelos dos transeuntes. O desejo passeia, observa os bicos dos peitos, o desenho das vaginas, os músculos, os pênis, os regos, as árvores dançando no Passeio Público. O desejo sobe, desce, vira. O desejo arte, lateja, fala sozinho. O desejo, vai, vem, volta, lembra, esquece. Gira, repete, inverte, subverte. Arranha, lambe, derrama, balança. O desejo é como um pescoço giratório que vê a cidade em 360 graus & 720 & 1440 & ... O desejo passa pelo Guadalupe, atravessa a Marechal, invade a Santos Andrade,  entra no Passeio Público, sai na João Gualberto, dobra na Rua do Joaquim, redobra na Riachuelo, goza no chão do Passo da Liberdade, grita na Tiradentes, avança pela, retorna pela, cada vez mais rápido até se misturar às cores da multidão na XV. O desejo faz esse percurso infinitas vezes ao longo da tarde.

Recapitulação
Eles não são. Eles estão. Estão forças a passar por outras forças, formações, deformações.   Forças que também não são apenas forças que estão manifestações - sempre transitórias - de misturas, composições, encontros, fusões, confusões, complicações.

Capítulo desejante


Caminha para inventar. um parte em algum lugar do Pará numa tarde sol e outra parte em um praça do Paraná seguindo uma mulher e depois ao lado dessa mulher, sentado em um banco com esta mulher, um beijo apressado, tchau. Porque você me deseja. Eu não a desejo. Nós nos desejamos. As pessoas andam até mais devagar para ouvir o que estamos falando. Imagine se eu fosse livre? Ela está mentindo, ele não quer saber a verdade. Você é um entre tantos. Ela o humilha.  Você quer que eu aperte seu sexo? Não posso... Aqui não. Estamos vivendo uma história de amor? Andam cinco passos de mão dadas. Que flores bonitas, recebi uma flor de lis uma vez, nunca soube de quem. Alguns remédios para a AIDS causam náuseas terríveis. O que acontece nestas reuniões? Falam sobre novas pesquisas, descobertas.... meu trabalho é muito triste. Até meu marido tem usado camisinha. Você usará? Você vai embora? Ainda não sei. Me dá um beijo. Quero mais. Não posso, tenho que ir, eles podem estar nos observando. Calor! Sim. Gosta do meu corpo? É muito bonito. Uma tarde  quem sabe até nos misturarmos à penumbra de um quarto ...  Quer? Tchau. Desparece por entre a multidão, sobe morros como se houvesse algo lá em cima. Um dia terá. Cheiro de perfume nos dedos, fim de maio, protestos & greves no país, as maiores taxas de emprego da história e ele prazerosamente desempregado ouvindo no escurecer da noite um vídeo do Velvet Undergoround no Youtube.

Capítulo 2014


Ardia em febre desde junho 2013.

- Hoje a tarde queria ter visto você ... - Hum ... que pena. - Até esperei um pouco mais.  - Onde está agora? - No ônibus. - Que pena. - Quem sabe semana que vem. - Que sabe.  Havia uma política que o atravessava entre livros, músicas, mídias sociais, anotações, litros de café, projetos abortados, artigos inconclusos, filosofia, noise, caos, suas roupas cada vez mais puídas, as mais altas taxas de emprego no país e ele desempregado. - O que você está fazendo? Respondia sempre que estava estudando, pesquisado, fazendo um projeto para o doutorado em que pudesse realmente produzir algo que sentisse ser potente  já que no mestrado foi cooptado pela sua orientadora e como precisava da grana para comer e não voltar de novo para a fábrica teve que deixar de lado a ideia de questionar frontalmente as instituições conservadoras do Estado. Agora sentia-se mais esperto embora suas roupas ficassem cada vez mais velhas, seus dentes mais amarelos, seu cabelo mais comprido. A bolsa havia acabado. Render-se e fazer uma pesquisa que desejam que seja feita, participar de congressos, debater com intelectuais, preencher o currículo lattes ou resistir e conduzir seu desejo para caminhos insuspeitos, correr o risco da loucura, do caos, da fome, da pobreza, dos mendigos, dos famintos, dos desempregados, dos que almoçam nos restaurantes populares, dos que voltam de ônibus para casa no fim do dia? A ordem e o progresso da academia ou o caos das ruas, da vida, da arte, das paixões, da poesia?  & quando amanhece inconstantemente selvagem encontro Viveiros de Castro numa página de livro que lembra de um dizer de  Foucault sobre Hegel - "que este se encontraria sempre a nossa espera, no fim do caminho por onde pensávamos lhe ter escapado". A saída parecia ser encarar as contradições, o risco estaria sempre ali como um fantasma, um chefe, um psicanalista, um padre, uma mãe, uma esposa, um policial, um professor à espreita.

Capítulo



Trav'ling lady, stay awhile
until the night is over.
I'm just a station on your way,
I know I'm not your lover.



olutípac  

o que sufoca é o espelho. o poema liberta.

Capítulo

- alô.

- [ruídos]

- Oi. Estou ligando desde ontem ... pensei que ... você não atendia & ,,,


- [ruídos] não posso falar agora [silêncio]

- [ruídos] tchau [silêncio].


Capítulo 

Dói deixar os livros para trás.  Sem lê-los. 

Capítulo

fantasmas

com medo de fantasmas povoei-me
com fantasmas & mais tarde desconhecidos
com fantasmas povoaram-me & conhecidos
povoaram-me com fantasmas desconhecidos
& conhecidos com fantasmas povoaram-me
com seus fantasmas. & agora? como libertar-me das suas sombras, dos seus venenos & das suas mortes? com medo de fantasmas apaixonei-me por fantasmas, sonho com fantasmas, rezo com fantasmas.

Porque mostra-me o seu fantasma? O fantasma produzido por seu marido?

- Ele é louco. Não sei porque gosta tanto de me fotografar. Olha essa? Peladinha.

Agora assombras-me com seu próprio fantasmas? Com a imagem de si própria?

- Quero-a. Não quero o seu fantasma.

- Olha essa.

- Delícia.

E esfrega os seios em meu cotovelo.

- vamos ao seu apartamento.

- hoje não.


Capítulo


o território desterritorializado de nosso amor esquizo. - é tão gostoso. o amor é revolucionário. a rede globo ao fundo dos gemidos não significa nada. - não tira.  ela jorra. - que livro é esse? sexus. Estamos possuídos por eros.  


Capítulo

Nós passeamos à tarde. Pela XV. Pela Osório. No Largo. Na Tiradentes. Na Santos Andrade. Seu corpo é cobiçado. Eles arregalam os olhos. Parecem querer puxá-la. Rasgá-la. Eles não se importam que eu esteja ao lado dela. Querem seu corpo. Babam. "É assim desde criança". Primo, tio, até irmão. O primeiro. o segundo. o terceiro. Uma série interminável de assédios. uma vida assediada. como se seu corpo fosse público. "O marido da minha irmã". Até colegas do trabalho. O vigia. O zelador. Motoqueiros. Ela me ensinou a ver os assédio pelos olhos de uma mulher. Comigo é diferente. Posso andar a qualquer hora do dia e da noite sem este assédio. No máximo, um pedinte, um bêbado pedindo uma moeda pro gole, um viciado fissurado.   

Capítulo 2015


o mundo já acabou. somos. sobreviventes. as barraquinhas vendem o que pode ser comprado pelo dinheiro que resta. chove. um pouco. o calor continua insuportável. algumas pessoas irão à praia no weekend, outros beberão cerveja. o mundo acabou, mas qual? aquele que os filósofos disseram ser o melhor mundo possível dentre os possíveis. resto. restos de democracia. as fábricas produzem ainda. elas não sabem. automóveis atravessam velozes o fim. nós transamos no crepúsculo. morremos no corpo um do outro. sobrevivemos a morte do gozo. meu pau sobrevive ao dever moral. sua vagina ao patriarcado. - ninguém manda em mim.  

Capítulo 27 de agosto de 2021

Em formas divinas o êxtase de duas almas revelamos juntos, 
luzes espectrais, que escrevem os segredos mais profundos
na camada mais delicada & evanescente do real, brilhantes &
em união com algo oculto do mundo, como um valioso tesouro, 
presentificamos a visão do sagrado que reluz mais do que ouro, 
& tocamos o cristal mais puro & precioso do cosmos: o Amor
sublime obra de arte esculpida pelas intensidades do absoluto
que nos envolve & nos devolve entre sombras & luzes à noite 
que se derrama sobre a cidade dos anjos onde, após tempos 
& espaços labirínticos, reencontramo & reconhecemo-nos,
de olhos bem fechados em cada beijo ardente, apaixonados.




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